"Eu era pirralha, sempre andava com o cabelo despenteado, acordava cedo, nem comia e já ia pra rua... Quase sempre sem chinelo... Odeio chinelos e quando estava com ele, o abandonava na primeira oportunidade que encontrava... Nunca gostei de chinelos.
Nunca soube dizer, ao relembrar daqueles tempos, quem era mais imunda, eu ou o chão. Talvez eu, talvez o chão, nunca se sabe...Pra mim, a vida era isso. Acordar, ir pra rua, andar descalça, ser mais imunda que o chão, pular cela, ou pular corda... Vez e outra brincar de amarelinha ou pique-esconde.
A vida era pegar moedas escondido e comprar balinha... Algumas vezes comprar fixa pra jogar totó. Confesso, tinha alma de menino, nunca gostei dessas frescuras de barbeis.
O meu negócio era pegar alguma pett e subir algum morro pra descer ele escorregando em cima da garrafa.... Ou chutar algum litro... Chutar alguém. É, eu nunca fui uma criança dócil. Bruta demais...
Sempre sapeca. Já pus até fogo no cabelo de uma amiga de infância. Porém, sem querer.
Aos meus 6 anos, em volta de uma fogueira, contei minha experiência mais assustadora. Quando a bateria da boneca acabou e ela começou a cantar dum jeito meio estranho. Acho que nunca senti tanto medo. Estranho, né? Ver algo tao seu, quase sendo sua pele, de repente acabar, te por medo, pavor... Eu me senti assim quando a bateria acabou. Nunca gostei de bonecas, mas aquele tinha sido presente do meu pai. Mandou lá de longe pra que eu tivesse com quem dormir. Não me sentir tao só.
E eu andava pra cima e pra baixo com aquela boneca ridícula. Ela dizia "Eu amo você" E se você a apertasse umas outras vezes mais ela soltava um "Dorme com Deus, que os anjos te protejam"
Vê-la me assustando me fez chorar e correr... Eu a amava, oras, eu era uma criança... Perdê-la partiu o meu coração e me fez ficar em casa lamentando por 2 longos dias.

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