Meu maior medo é viver sozinho e não ter fé para receber um mundo
diferente e não ter paz para se despedir. Meu maior medo é almoçar
sozinho, jantar sozinho e me esforçar em me manter ocupado para não
provocar compaixão dos garçons. Meu maior medo é ajudar as pessoas
porque não sei me ajudar. Meu maior medo é desperdiçar espaço em uma
cama de casal, sem acordar durante a chuva mais revolta, sem adormecer
diante da chuva mais branda. Meu maior medo é a necessidade de ligar a
tevê enquanto tomo banho. Meu maior medo é conversar com o rádio em
engarrafamento. Meu maior medo é enfrentar um final de semana sozinho
depois de ouvir os programas de meus colegas de trabalho. Meu maior medo
é a segunda-feira e me calar para não parecer estranho e anti-social.
Meu maior medo é escavar a noite para encontrar um par e voltar mais
solteiro do que antes. Meu maior medo é não conseguir acabar uma cerveja
sozinho. Meu maior medo é a indecisão ao escolher um presente para mim.
Meu maior medo é a expectativa de dar certo na família, que não me
deixa ao menos dar errado. Meu maior medo é escutar uma música, entender
a letra e faltar uma companhia para concordar comigo. Meu maior medo é
que a metade do rosto que apanho com a mão seja convencida a partir com a
metade do rosto que não alcanço. Meu maior medo é escrever para não
pensar. (Carpinejar)
Doce de Amendoim
Descobrir um cofrinho escondido entre uma ferramenta e outra, era como conseguir alcançar o baú de tesouros no final do arco-iris antes que ele desaparecesse. Como eu o encontrei? Não sei ao certo, mas bem provável que tenha sido quando estive procurando por alguma coisa que pudesse firmar a casinha que eu estava construindo. Acho que meu pai não levou em conta a minha façanha em prender panos e erguer gambiarras para que eu me enfiasse dentro e, escondeu o cofrinho num lugar fácil pra mim, que mexe em tudo. Sabe aqueles cofrinhos que parecem conter todas as moedas do mundo? Era ele! Tão pesado e infinito que não saia do lugar com a minha força. Devo ter enriquecido umas mil vendinhas na minha infância. Talvez eu tenha sido a maior cliente das fábricas de doces de amendoim da época. Me amavam sem nem me conhecer, certeza! E faziam um cada vez mais gostoso que o outro, só pra me agradar. Se meu pai soubesse que eu enxergava doces no lugar de moedas, nunca teria m...
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