Letícia Blues
Depois daquela moça,
eu já não me conheço mais.
Eu não gosto mais da cor vermelha,
eu não chego mais perto das janelas.
Depois daquela moça,
pavor é a palavra mais sã que eu posso usar
pra dizer que eu prefiro estar o mais longe possível dos blocos de apartamentos.
Ficar debaixo deles, ah, nem pensar!
Depois dela,
escutar Lifehouse já não é mais visto,
eu perdi gosto,
não sei nem como eu consigo escrever corretamente o nome da banda.
Depois dela,
não consigo tomar sorvete de maracujá e goiaba.
Eu fico meio só,
Não quero mais receber cartas.
Depois dela,
pensar no ensino médio é doído,
parece mais um buraco infinito,
um vazio que nenhuma janela pode filtrar.
Depois dela,
não como mais frango,
Não sinto mais gosto de nada.
É difícil até pra mim acreditar!
Depois dela,
as vielas ficaram mais estreitas,
Eu não tenho mais apego pelos meus amigos,
Tudo é mais livre do que o ar.
Depois daquela moça,
Tudo passa meio depressa demais,
As pessoas são tão fugaz,
Mais escorregadias que quiabo.
Depois daquela moça,
Eu tenho medo de andar no escuro,
Meu coração anda tão duro.
Um azedume incontrolável.
Depois dela,
Eu meio que torno tudo mais complicado.
Não me entrego á qualquer bom grado,
Fiquei meio ranzinza com a vida.
Mas depois daquela moça,
Eu conheci um tanto de outras,
Mas só uma eu quis deixar ficar,
Eu consegui me entregar.
Mas eu ando com tanto medo,
Eu queria que aquela moça de antes,
Estivesse aqui, pra sentarmos debaixo do bloco,
Conversar.
Porque eu preciso tanto desabafar.
Desabar,
Desaguar,
Desvairar.
E só aquela moça,
Só ela,
Apesar de tudo.
Sabia me escutar.
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