Marquesando

Eu devia ter sentado no sofá ao lado do meu pai por mais vezes. Devia ter tentado chamar mais sua atenção. Forjado um romance, ter trago gente pra dormir aqui em casa sem pedir permissão. Devia ter dito algo enquanto ele berrava, sabe-se lá de qual cômodo o desgosto que eu sou pra ele, mesmo quando todo mundo sabia que eu não havia feito nada. O nada sempre foi um problema. Devia ter preenchido o ódio com alguma espécie de vida, mas me calei. Devia ter mostrado quem eu era ou quem eu gostaria de ser, dentro do carro, antes do rádio começar a tocar e irmos pra casa do padrinho Paulo. Devia ter abraçado mais forte ou olhado com mais ternura o seu rosto, naqueles inúmeros "sentimentos de agradecimento" dos presentes nas datas comemorativas. Chorado o nó da garganta, mas virei as costas. Devia ter deixado os demônios que habitam em mim, atacarem quando percebi que ele passava por mim e não me notava, me esbarrava mais não se virava pra ver em quem, não ...

É difícil levar a vida nas costelas, abaixar e sentir o peso da velhice. O peso do sedentarismo, do cigarro, da bebida. A imprevisão de não saber se amanhã eu vou estar, e angústia de nunca saber de nada.  Passar dias imaginando a vida, e chega um em que eu não consigo pensar, só tentar saber em como sobreviver, se vou sobreviver.  Não vou mentir, queria eu, durar pra sempre. Estar sempre, cuidar sempre... De alguém.  De nunca ir, sempre ficar... Porque deixar, parte um.  Mas eu não quero pensar nisso, não agora.  Eu sei, que por ela eu tomaria os meus antibióticos, não fumaria durante as tão duas semanas que se pede, direitinho, como se deve ser.  Eu não beberia,  eu cuidaria mais de mim. Eu escutaria mais The Kooks, baixaria até algum álbum deles. Assistiria mais filmes de sereias... Desenhos.  Cuidaria mais da minha família, ficaria mais em casa.  Seguiria a risca a dieta do nutricionista, Marcaria sessõe...

Que bom que a gente se encontrou. Que bom, agora, ter você para me lembrar todos os dias o quanto faz bem ter alguém que te quer bem. Que bom olhar para todos os cantos e partes de mim e encontrar você. E fazer parte de um acaso – como nós – que me faz deitar todas as noites sorrindo e agradecendo à Deus pela sorte de ter acontecido. Que bom ter você que, além de me salvar da maldade das pessoas e diminuir quase 100% de todas as minhas chateações diárias, ainda quer me proteger dos meus medos. E, que bom ter a tua mão segurando a minha, sabendo que mais que os nossos dedos, nossas vidas estão sendo entrelaçadas. E, só pra te lembrar: te quero, te gosto e te sinto, cada dia mais. (Plenitude)