Enredo Malígno.

Nós criamos aquilo que chamo de “romance de saída de emergência”. É um relacionamento que não conhece paz, harmonia e calma, adora crises e cresce com a possibilidade do fim.
 
Quando estamos perto de romper em definitivo, as juras são renovadas e alimentam a ilusão de que o relacionamento engatou de vez. Em seguida, com a estabilidade, a convivência retoma o batimento e voltamos a provocar um ao outro por uma nova declaração e picos de audiência cardíaca.
 
Ela me ama , mas não ama a vida que pode ter comigo.
 
Ele me ama, mas odeia estar amando. Compreende o amor como uma maldição, uma pegadinha do destino. Pretende ficar próxima, mas rejeita o cenário de simbiose e dependência.
 
Confia que o amor é uma fragilidade a ser evitada. Atrapalhará a sua liberdade de ir e vir, prejudicará os negócios e o desempenho profissional. O amor é uma espécie de inimigo insaciável, a exigir disponibilidade para gentilezas, mimos e cuidados.
 
Ela experimenta a seguinte crise: não se separa e também não se entrega. Procura se livrar do amor, mas não da minha companhia.
 
Isso explica a vigília em silêncio (vasculhando meu Facebook) e a natural resignação diante dos adiamentos e promessas quebradas (como a de vir me visitar).
 
Entendeu a contradição?
 
Não construiria minha vida para chamar seu retorno. Não mudaria os hábitos ou inventaria viagens loucas para atrair meu desespero. Vou sofrer, e muito.
 
Não pode ser metade do que sou é porque ela não é inteira.
 

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