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Mostrando postagens de agosto, 2014

Sou assim.

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Certa vez, eu estava de ida à Governador Valadares. Como de mania mesmo da minha parte, deixei meu caderninho de registros comigo na poltrona, o resto, no bagageiro... Ter um caderno de registros para uma viagem de 19 horas a fio, é mais do que necessário para passar o tempo ocioso. Até porque não teria nada de divertido, além de ver as arvores voando pela janela do ônibus. Outra mania, viajar de ônibus. Particularmente, voar não é comigo. Nada contra o céu, tudo contra as coisas que viram formigas lá de cima. Numa dessas manias de redigir tudo que avistava pela frente, inesperadamente, minha caneta estourou. Como? Não me pergunte como. Minha blusa, minha calça, tudo se transformou num daqueles borrões do Wilson Braga. A moça ao meu lado, me ofereceu incontáveis guardanapos para limpar aquela meleca toda. -Me dê a caneta para jogar fora. A lixeira é bem ali. Eu não conseguia largar a caneta, embora ela já não pudesse mais me servir para nada, além de me proporcionar uma pequ...

Para ela

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Eu decorei suas fraquezas, acalmei seus pesadelos. Conheço histórias de sua infância, dores e repulsas. Sou sua caixa-preta, sua cópia de segurança, seu diário, seu esconderijo na parede. Poderia imitar sua caligrafia, poderia escrever sua biografia, listar o material escolar da 5ª série, recordá-la da capa de bichinhos coloridos da cartilha Alegria de Saber. Você não escondeu nenhuma resposta de minhas perguntas. Nenhuma gaveta para a minha curiosidade. Nunca se revelou tanto para outra pessoa. Expôs quem odiava no Ensino Médio, quem amava, quais as gafes e as covardias que experimentou na escola. Confidenciou aquilo que seu pai gritou e que magoou fundo, aquilo que sua mãe omitiu e feriu fundo. Não tem anticorpos contra mim. Baixou as armas, depôs a mínima resistência. Se você me escolheu para confiar, devo ter o dobro de tato para falar contigo, o triplo de responsabilidade. Qualquer um conta com o direito de falhar, qualquer um desfruta da po...

SIM OU NÃO.

É sim ou não. Serão três letras para o fim ou para o início. Sim ou não?   Não aceito que diga que está cheia de preocupações e que não é o melhor momento.   Não peça mais tempo para pensar, tempo não é sabedoria, tempo é adiamento.   Dou tempo para arrumar o cabelo, não dou tempo para arrumar a cabeça.   Não me diga que não tem como me fazer compreender, ou que não pode me fazer esperar.   A despedida é uma aula de desculpas, não revela o que sentimos. O aceno tem que ser trinco, senão é mero cumprimento. O aceno abre ou fecha portas.    Não venha alegar que sou especial e pretende continuar do jeito que está. A comodidade esvazia a urgência.   É sim ou não. É definir antes a vida que não quer. Só a renúncia valoriza a escolha.   Preciso perguntar. Não tenho saída. Não ter saída é ficar junto.    É sim ou não.   Não serei compreensivo. Acompanhando sua covardia não lhe darei coragem. ...
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Sou do Leste de Minas, mas minha alma é mesmo de quem é do interior de lá. D'uma cidade pequena, onde não passa de 10 mil habitantes. Todo mundo se conhece, se cumprimenta, se convida para um chá de finzinho de tarde. Não tem carroças, como a maioria das pessoas acham que têm quando se ouve falar que se é de Minas. Tem queijo,  queijo e broa e um cafézinho daqueles que cheiram da esquina. O curioso de cidades assim, nem é o acolhimento, o abraço e o sorriso de quem sente saudade. São os carros anunciando a morte de algum prefeito querido, de algum morador, sendo ele conhecido ou não. Certa vez, estava eu em Capitão Andrade. Uma cidadezinha que fica cerca de duas horas de Governador Valadares, de no máximo mil habitantes. Essa sim, você poderia até decorar o nome de todo mundo que vivia lá. Uma probabilidade. Quando estive por lá, aconteceu algo muito curioso. Os sinos da Igreja central não paravam de dobrar, cerca de 10 minutos ressoando sem parar. Estavam anunciando para a ...

Enredo Malígno.

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Nós criamos aquilo que chamo de “romance de saída de emergência”. É um relacionamento que não conhece paz, harmonia e calma, adora crises e cresce com a possibilidade do fim.   Quando estamos perto de romper em definitivo, as juras são renovadas e alimentam a ilusão de que o relacionamento engatou de vez. Em seguida, com a estabilidade, a convivência retoma o batimento e voltamos a provocar um ao outro por uma nova declaração e picos de audiência cardíaca.   Ela me ama , mas não ama a vida que pode ter comigo.   Ele me ama, mas odeia estar amando. Compreende o amor como uma maldição, uma pegadinha do destino. Pretende ficar próxima, mas rejeita o cenário de simbiose e dependência.   Confia que o amor é uma fragilidade a ser evitada. Atrapalhará a sua liberdade de ir e vir, prejudicará os negócios e o desempenho profissional. O amor é uma espécie de inimigo insaciável, a exigir disponibilidade para gentilezas, mimos e cuidados.   ...

Amor é o vento do destino.

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Quem sou eu para dizer o que é amor? Vivo procurando respostas para dizer. Amor é o que fica depois da briga, como disse Fabrício? É o que fica depois de ir embora? Eu já não sei, mas assumo minha curiosidade nada saudável, em descobrir. Eu sei que amor não é a dor de ver alguém partindo, não é aquele choro inconsolável, os banhos que não se toma na depressão, amor não é a opinião dos seus amigos. Isso já é falta de amor. Heresia ao amor. Eu pensei já ter chegado perto de senti-lo. Eu já tive que deixar muita gente ir, parece normal, talvez seja. Mas existe uma, o amor, que você não vai conseguir nunca deixar ir. Que um dia sem ele, é um dia perdido. É o dia que você vai levantar de cama, fazer os rituais do dia-dia, normalmente, mas vai sentir-se como uma parte. Amor é uma parte. Meio amor sou eu, partido ao meio. Meio amor é você partido ao meio. Amor é a junção dessas partes, fazendo um inteiro. É quando você vê a pessoa de longe e deixa o refrigerante entrar no nariz, ao invés da...

Não é poesia, é substantivo real.

A gente diz saber o motivo, mas quando a gente mergulha, a gente já não sabe mais de nada. Eu dizia saber. Falava que eram os beijos, que era o olhar, que eram as pernas, o tom da voz. Mas não é. É outra coisa. Uma coisa além da minha compreensão, além das linhas clichês para tornar tudo poesia. É como eu disse uma vez, descrever o olhar, falar do andar, dizer o tamanho da beleza interior, o tamanho do ser exterior, descrever os sonhos, as manias, falar do vento no cabelo, falar das coisas concretas e ao mesmo tempo abstratas, é tão sutil, delicado, divino para os poemas. A gente imagina, remagina, cria um afeto imenso - quem lê - por quem nem nunca viu. Mas sempre fui do bendito contra, gosto, amo descrever essas coisas, exemplificar os inúmeros porquês de um amor. Como se eu devesse explicação para quem se dispõe a ler tantas palavras minhas. Mas se vocês querem uma real explicação, a mais bonita que uma poesia pode ter, é que; Eu não sei! Não é por essas coisas que eu a amo. E...