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Hoje o Mundo Podia Ficar sem Mim

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Hoje foi um daqueles dias que eu poderia ter  sido apagado pelas minhas cobertas. Não queria ter levantado pra tirar,  sequer a poeira das cerâmicas de lugar. Elas poderiam ficar quietas, sem serem incomodadas. Tô me sentindo sem utilidade pública hoje. Útil somente para o vazio que quero preencher na minha casa. No quente. Protegido. Dono de mim. Acordei não querendo participar muito. Ser comunicativo somente com a culinária, ou com algum documentário histórico na tv. Mas, o mundo não me deu folga! Emburrei o dia todo, separei vários papéis de qualquer jeito. Devo demorar dias pra arrumar a bagunça toda Participei, mas sem saco. (Marquesando)

Análogo

Sou tão cheio, Mas antes de transbordar Elas me esvaziam. Uma, ou duas Com todas as suas teias, Truques Fazem de mim, seus enfeites... Eu bebo todo o visco do álcool, Enquanto elas Do outro lado, tentam bagunçar meus pensamentos. Mas nunca passa disso. Elas me vasculham em busca de reflexos dos seus ideais. Garimpam tanto que antes de ser metade do que sou, me perco. De cheio, sou nem metade de todo o meu inteiro. Mas tudo bem. Quanto maior a dose Mais doce é saber Que no final das contas Todas elas são iguais. Cobertas por suas superfícies.

Poço

Sai de mais um caso mal-sucedido e descendo ladeira, feito bicicleta sem freios, certamente. Me sentindo parente da merda, triste e amargurado. Completamente desprezível e esgotado. Entre um aplicativo e outro, busquei refúgio. Ocupando-me de qualquer coisa que não fosse das lembranças dela. Das voltas, dos caminhos. Estava mergulhado, profundamente mergulhado. E as ânsias fora a única coisa que ficou. Era lembrar que fui descartado feito papel rasgado no lixo e elas invadiam as minhas manhãs em cada escovada de dente. E isso se estendeu por semanas. Tossia feito um porco sarnento dobrado na pia. Tentava respirar pela janela, mas não adiantava muito. Ela não voltou atrás. Fiquei esperando redenção, mas terminei sozinho outra vez.

Enraizado

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Ela me cultiva. Cativado fico no cativeiro dela. Pela boca, pele teiada. Amaranhado; Preso fico pelo finco do tecer. Tecer como vai ser, tecer a minha morte. Lento Envenenado de mim e Intoxicado dela. (Marquesando)
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A musica é da época e o bar está esvaziando. O nível já nos faz dançar pelo condomínio... Eles giram, E todo mundo fala tão alto, E as gargalhadas me parecem tão sinceras. Provavelmente nenhuma delas contém saudade. Ou tem, e estão forjando a realidade. Enquanto eles transitam pelo térreo, gritam sua felicidade, eu bebo minha cevada, lembrando dela; A minha saudade. Que eu mantenho trancada, enganada afogada por 8 por cento na veia... Morra ai dentro, cadela. Não vai me fazer mandar nenhuma mensagem. (Marquesando)

Sujeira

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Você cresceu feito poeira nos móveis de mim e, por mais que eu limpasse, na outra semana estava tudo de novo ali, fechando as janelas antes de sair ou não. Você se alojou feito o amarelado das minhas cerâmicas, que mesmo com todo o multi-uso, trocando o pano todo início de mês, se espalhou e está por todos os cômodos da casa. Nem a varanda escapou. E as manchas da minha parede branca? Acho que a maior comparação das marcas que você deixou. Eu posso até jogar uma mão de tinta, tampar pra alguém novo vir. Dizer: "Sua casa é linda, adoro estar aqui com você." Eu sei o que tem por baixo dali. Mas que eu saiba dizer ao menos uma verdade pra mim... Eu posso redecorar tudo, trocar o que eu puder e o que todo o meu dinheiro comprar; há coisas que eu nunca vou conseguir cobrir. Só mudando de mim pra ser uma casa nova. ( @marquesando )

Nadador

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Aspiro tudo a minha volta Depois expiro urgente, meio fatigado e estupefato. Descontrolado na ira, no amor... Seja lá o que for. Nada é raso por aqui. Tudo transborda. O que imerge em mim, aponta o nariz e está no morno; na banheira, com vinhos e sais de acompanhante. Vagas horas ele desponta, plagiando a erupção, Corroendo coisas à volta ou as erguento. Tô perdido na condição de são. Julgo ser um tolo; cultivando e banhando o que me mata, controlando o que expiro, do que é difícil manter quieto na mente, o meu pulmão. (Marquesando)

Oralidade

Meus lábios são toda a cor; São pincéis que pintam todos os traços Dos teus traços. Coxas, Pernas, Braços, Aonde ele alcançar no calor. São feito acabamentos, Que suave se pinta na pele Pelas curvas do pudor. Ora, meu amor; Te esculpir com a saliva, Pelas voltas da língua É só mais um dos Meus dotes de galanteador. Estes lábios Será sempre seu melhor desenhista Quando se tratar do nosso caso De não amor. (Marquesando)

Pássaros.

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Qualquer mensagem E um pássaro de mim, Foge. Toda vez que ela me chama de ‘menino’ Um sorriso em meu rosto desponta. Feito flor, Que quando cuidada, Nasce. E ela me pergunta: “ouviu a nova música do switchfoot?’’ O que meus lábios não dizem, Meus olhos entregam. E eu me pergunto: “Ela se lembra como?” – Eu mal me lembro da que escolhi pra chamar de “nossa”. Não nos vemos faz tempo, Mas cada ‘olá’ É um abraço, Como o da última vez; Que faz de dentro de mim, Mais um pássaro fugir.

Francesa

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Francesa que não era francesa Mas mineira, lá do bairro São Raimundo; rua abaixo da que cresci. Francesa é ela! De cabelo branco como o algodão e longo como o Rio Doce. Aquele mesmo! Perto do Vila Isa, entre a Ilha e o bairro São Paulo. Ela, Forte como os rochedos do Pico da Ibituruna De um abraço mais acolhedor que pão de queijo. Dona Francesa, como eu a chamo. É o cheiro de pavê com morangos. De ovos mexidos com linguiça apimentada. Do frango com quiabo e angu. A doçura deve ter ido visitá-la e ela ofereceu queijo com goiaba, certeza. A voz, o jeito, tudo da Dona Francesa era um algodão doce. Se o amor tem traços, é dela cada linha dele. (Marquesando)

Quando eu era do tamanho das minhas pernas

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O que houve rua? Parecias mais alta, Espaçosa, Com uma descida longa sob minha garrafa verde. Que aconteceu, bairro? Que o barro foi tampado salvando a roupa do lamaço de fazer pique-pega. Aonde foram, pedras? Eram tão numerosas Ecoando em telhados sorteadas pela minha implicância. Quando, casa? Tu ficou tão pequena? Na mesa dessa sala, fiz cômodos em pé. Quem te deixou, corpo? Ficar tão grande e desengonçado, Também um tanto esgotado de gozar todas essas coisas. (Marquesando)

Um Pequeno Bobo da Corte

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...Em geral era assim que acontecia: quando ele via alguém jogando cartas, pedia que lhe dessem o curinga. E não importava se ele não conhecesse as pessoas que estivessem jogando cartas num café, ou sobre uma mesinha de madeira improvisada. Ele dizia, então, que era um apaixonado colecionador de curingas e pedia-lhes o curinga, caso elas não precisassem dele no jogo. A maioria delas dava o curinga sem maiores cerimônias; outras ficavam simplesmente olhando para o meu pai como se quisessem dizer que ele era o pedinte mais curioso que tinham visto em suas vidas. Outras, ainda, recusavam com educação o seu pedido e ainda havia aquelas que ficavam por demais irritadas com ele. Mais de uma vez eu já tinha me sentido uma criança pobre que é forçada a uma espécie de mendicância contra a sua vontade. É claro que eu também já tinha me perguntado o que teria motivado meu pai a ter um hobby tão original. E a explicação mais plausível era que isso talvez fosse para ele mais ou menos como coleci...

Trapos de Mim

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Que acontece na alma d'um homem para que ele se entregue assim ao vento? à rua, ao chão, deitado na madrugada em frente a algum comércio, ponto cidade à dará. Que acontece que resolve ser cinzento? esguio, beberrão, com o cheiro do mundo e dos dias em si, sujeito ao outro encontrando-o. Que acontece lá dentro que torna o homem um maltrapilho de si? Será o estado? A poesia, o amor? As regras da vida ou a dor? Ociosa penso nisso sempre. (Marquesando)
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A gente se viu Eu pus meus olhos nela O cheiro dela se pôs em mim Respirações adentro. A pele, Macia como espuma Se apertava sobre a palma. De dois em dois O contato se pôs em mim Na espinha, Por dentro. E eu a via Meus olhos com o dela Sempre que ela ia pra lá Magnéticos, Tentando fazê -la voltar. Que louco foi a gente dançar Qualquer coisa que eu não ouvia Algo pra lá e pra cá. Dispersa em não mais S O L      T A         R (marquesando)
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Traga-me um cigarro, Não consigo manter a calma com ela longe de mim Assim, ao lado da cama sem poder tocar. Finjo calma, Finjo recepções Finjo o nada Comendo-a com os olhos toda vez que passa Que pousa, Que para pra me olhar. Aqueles olhos que dizem: Eu também quero te tocar, Mas hoje não dá Espera-me semana que vem, Ou me imagine pra se saciar. Droga, Traga-me um cigarro, Preciso me acalmar Do desejo que é não poder te tocar, Agora, Nesse segundo Já. (Marquesando) 
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Eu te vejo nas estrelas Pela transparência do ar Que sinto assoprar entre os fios dentre as nuvens Pelos pés, Sua força, Seu abraço feito áurea a me firmar. Sua imensidão é nas cores; Nas voltas. Ondas do teu mar, Quais me vigora à cada gole Fresca meus ossos adentro. vida, tão infinita . habita imensa em mim. (Thaysminy Marques)
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Falamos iradamente, repetimos, feito um disco arranhado que para no meio de uma melodia, ou como um eco no meio da montanha. Martelamos, cinco ou seis vezes mais do que necessário para perfurar, amassou a madeira. Enchemos o recipiente de nós mesmos até não haver mais espaço, não consegui me movimentar. Reviramos o passado como um andarilho revida o lixo para comer. Expomos os nossos medos; Transbordamos o que já se foi. Desperdiçamos o agora. E então, de tanto ser de mais, não conseguimos ser muito do melhor que podíamos ser. Tivemos abundância no que julgamos faltar. Deixamos esvair o que possuíamos. Tivemos atenção na pressa. Quase nada no cuidado.  (Thaysminy Marques)

Amnésia

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Dois copos virados; um cigarro, por favor. Três copos, voz estridente. Quarto, banheiro. Quinto, pensamento se aleatória; outro cigarro, por favor. Sexto pra frente, a seiva te afoga dentro de mim. e se tiver um green, você evapora. (Thaysminy Marques)
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Quem não recorda o primeiro encontro, quantas horas ensaiou pra não vacilar no primeiro 'olá', a roupa que vestiu, o óculos embaçado pela respiração ofegante do primeiro beijo, sofre menos com a separação. Quem não coleciona fotos na nuvem, quem não revela fotos pro álbum ou para o porta-retrato, quem não guarda os áudios mais fofos, sofre menos com a separação. Quem não tem um gravador dentro da cabeça, sofre menos ao se lembrar do último beijo, dos últimos amassos. Quem não tenta recuperar o diálogo, o interesse, as piadas, sofre quase nada com a separação. Quem não traz as alegrias para as brigas, mesmo as minúsculas, para suavizar a raiva, Quem não desenvolvia dialetos, expressões, não dava apelidos carinhosos, não infantilizava e envelhecia o outro para recuar e avançar em todos os tempos da vida, sofre menos com a separação. Quem não tinha fé quando faltava compreensão sofre menos com a separação. Sofre mais quem se compromete a lembrar de tudo e escolhe q...
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Se somente o que restou de nós foi a vontade de seguir em frente, então que não olhemos para trás. (Thaysminy Marques)

Falácia

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Ela disse: -Eu gostava de você. Mas ela não sabe que se eu andar ao lado direito de qualquer coisa, tropeço. Ela disse; Mas ela não sabe que organizo coisas por ordem decrescente de modo que me remeta paz. Eu juro que ela disse; Mas ela não sabe que acordo de madrugada, ritualmente, para beber água. Ela se encheu pra dizer: -Eu gostava de você! Mas ela não sabe que se duas coisas estiverem pedindo minha atenção, é como um zumbido infinito, não consigo ouvir. Ela disse... E se você visse, acharia que ela sabia que eu enrolo o cabelo sempre que me disperso. Ao dizer, foi como se listasse todos os meus desenhos preferidos sem consultar, ou todos os episódios de friends que mais me fazem rir. Ela disse: -Eu gostava. E no mínimo ela deve saber que, se eu trocar toda a minha playlist, switchfoot eu manterei. Ela se enfureceu para dizer: -Eu gostava de você até você se mostrar. Como se me visse falando sozinha sempre que tenho oportunidades. Esse foi o problema. ...
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O silêncio dela foi tão alto Que tomei um whisky barato Pra escutar com clareza Fiz algumas caretas e tudo ficou bem Mas o efeito vai passar E Ficarei aguardando o silêncio parar de gritar na minha cabeça No escuro No fundo da cama Com um cigarro forte Algumas drogas que anestesiam meus sentidos Deito com a primeira que dá mole Ofereço, como de costume Desculpas como: "o celular parou" E não ligo no dia seguinte. Eu não quero ninguém, Só quero que o silêncio fique em silêncio. (Thaysminy Marques)

Volte

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Fique, Eu não posso te perder nesta primavera. Me tenha, Como você quiser. Faça, Meus olhos ficarem arregalados, Surpreenda-me, Com suas mãos. Qual a sua decisão? Estou perdendo minha paciência. Eu nunca saberia como viver sem essa longa. Coloque, Seus lábios contra tudo que te segura. Fique, Quero esquecer as regras. Me leve, Para o seu quarto. Espere, Meu silêncio é como pensamentos trovejantes. Querida, Faça minha alma permanecer. Pegue, Restaure a minha vontade. Retire, Toda a minha pele. Conheça, Meu espírito e pecado. Nunca saberei como ficamos longe por tanto tempo. Vamos, Empurre seu quadril contra Tudo que está te mantendo longe, Solte-se, Volte. (Thaysminy Marques)

Invasiva

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ah, ansiedade Por que me maltratas tanto assim? o tempo parece fugaz com seus olhos eu enrolo o cabelo roo as unhas os gases dos isqueiros acabam o chão desgasta nos batuques dos pés Por que não me deixas sentar sem ter que balançar as pernas, ou mudá-las de lugar a todo tempo? me mesquinhas o sono és tão avarenta com a felicidade Que te fiz eu para dobrar meus cigarros ? enfias as mãos no meu peito aperta que amarga a garganta arde meus olhos por que me apavoras?  por que me dobras os joelhos? me enfias nos cantos de tudo? fico pequenino, vulnerável, Eu quero fugir Eu quero muito fugir mas você escraviza eu tento crescer preciso crescer mas contigo eu sempre me encolho!

Geladeira Vazia

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Benditos eram os sábados, que só eram felizes depois das 16h, às vezes, depois das 17h30min. Variava com a fila do mercado. Era rito. Duas lasanhas, Dois sabores diferentes de pizza, Cervejas, Leite, Cappuccino de chocolate, Pães de forma, Goiabada, Queijo, Uvas, Iogurtes... Ah, não posso me esquecer: "Tem miojo lá em casa?" ela me perguntava com os olhos de preguiça e de quem não queria nada, esperar os 30 minutos da lasanha no forno. E eu respondia: "acabou, meu bem! Pode ir buscar", enquanto eu estava na seção de produtos de limpeza. E ela ia, como se fosse encontrar, arrisco, os 27 minutos para serem gastos nos meus braços, abraços. A geladeira nunca estava vazia aos finais de semana. E mais do que mantimentos, era cheia de amor. Hoje, evito encher a geladeira. Me alimento na rua. Confio a saúde aos outros. Preenche-la é deparar com uma parte dela que não está mais aqui. É pior do que encontrar uma foto perdida nossa no meio das coisas bagunçadas lá de casa...

Fios de Thor's Well.

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Descrevendo-a, não posso me esquecer de seus cabelos. Anelados e compridos, Acentuando-se em todas as curvas impiedosas, para mim, de seu corpo. Caindo por seus ombros e costas como uma queda d'água de Thor's Well. O que as costas da cadeira tampava, me maravilhava quando se erguia. Ela era uma triste e inapropriada venda para as pontas do seu formoso 'V'. Matava a beleza da contemplação. Não haviam curvas mais bonitas que as curvas daqueles fios... Todos amontoados em simétrica arrumação. Soavam ainda mais perfeitos quando estavam caídos pelos meus ombros a fora.  (Boteco de Sentimentos)

Amor Piegas

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Eu não sou normal no amor; Sou exagerada, dramática, controladora, escandalosa. Eu choro, grito, quase berro quando sinto que algo me fere. Meus maiores sinais de loucura no amor é desde a infância. Amava tanto o meu pai que não suportava ficar um minuto longe dele. Era de lei, todas as sextas e sábados dar escândalos de amor, socos nas portas, pontapés nas portas. O amor era tão grande e espaçoso, que tinha que ficar trancado, caso contrário, grudaria feito carrapato na perna do meu pai e dali, só sessaria se eu o visse deitado na cama e quieto com nada nos distanciando. E as incontáveis vezes que inventei dores de cabeça só para ser liberada mais cedo do colégio quando ele tinha visitas de meninas? Eu tinha que ficar ali no meio, me certificando de que o amor que era meu, era meu e que não iria ser transferido. Eu me chateava quando ele chegava cansado demais do trabalho e não podia orar comigo antes de dormir. A oração não tinha muito sentido se ele n...

Eu amo Almas.

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Desculpe decepcionar, mas não sou hétero. Sou lésbica, tosca, apaixonada por peitos. Sempre me relacionei exclusivamente com mulheres e será assim até o fim do meu tempo e não, isso não tem haver com rebeldia, com escolha. Eu nunca escolheria o ódio para poder sentir livremente. Nunca escolheria a hostilização para poder sentir livremente. Eu nunca escolheria a exclusão da minha família para poder sentir livremente. Eu nunca escolheria o abandono dos meus amigos, por vergonha do que irão pensar deles, para poder sentir livremente. Eu nunca escolheria o descrédito da minha condição de ser humano para poder sentir livremente. Eu nunca escolheria a descrença dos meus sonhos, dos meus projetos para poder sentir livremente. Eu não tenho controle. Eu não tenho escolha. Não fui eu mesma que virei para o meu ser e me classifiquei assim, ditei, ordenei. Eu nunca tive a maldade de me 'punir'. Eu nasci assim, e cada minuto que cresci, sendo ensinado ou não, já estava alojado em quem e...

Sou feliz com pouco...

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No meu primeiro apartamento, formei a minha estantes de tijolos e tábuas colhidas na rua, e eu era feliz. Tinha dois bancos feitos de engradados jogados fora por um bar, decorados com almofadas coloridas, e era feliz. Tinha de cama simplesmente um colchão no chão, e era feliz. Tinha quatro pratos e quatro pares de talheres e não podia receber mais gente, e era feliz. Tinha um ventilador que funcionava melhor sem a tampa, e era feliz. Tinha Bombril na antena da televisão, desespero para capturar três canais, um com tempestade na tela, o segundo com chuvisco e o terceiro com neblina, e era feliz. Tinha vasos pintados a partir de garrafas de suco, e era feliz. Tinha um lençol que servia de cortina, a claridade não me permitia dormir depois das 8h, e era feliz. Tinha como lixo uma sacola plástica presa na torneira do tanque, e era feliz. Tinha a mania de somente beber água de graça, e era feliz. Tinha a tática de atrasar o condomínio a cada dois meses, e era feliz. Tinha como arara as pe...

Tudo bem...

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Doce de Amendoim

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Descobrir um cofrinho escondido entre uma ferramenta e outra, era como conseguir alcançar o baú de tesouros no final do arco-iris antes que ele desaparecesse. Como eu o encontrei?  Não sei ao certo, mas bem provável que tenha sido quando estive procurando por alguma coisa que pudesse firmar a casinha que eu estava construindo. Acho que meu pai não levou em conta a minha façanha em prender panos e erguer gambiarras para que eu me enfiasse dentro e, escondeu o cofrinho num lugar fácil pra mim, que mexe em tudo. Sabe aqueles cofrinhos que parecem conter todas as moedas do mundo?  Era ele! Tão pesado e infinito que não saia do lugar com a minha força. Devo ter enriquecido umas mil vendinhas na minha infância. Talvez eu tenha sido a maior cliente das fábricas de doces de amendoim da época. Me amavam sem nem me conhecer, certeza!  E faziam um cada vez mais gostoso que o outro, só pra me agradar. Se meu pai soubesse que eu enxergava doces no lugar de moedas, nunca teria m...
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Quando não vê.

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Não adianta cortar o cabelo, pintar as unhas de vermelho, mexer na sobrancelha, comprar um batom novo. Não adianta gastar com aquele sapato carérrimo, ou com aquela calça skinny preta, linda e que realça o bumbum. Aquelas horas a fio sobre a cama, deitando o caderno no colo para a letra ficar mais bonita com o bico de pena, mexida só em grandes ocasiões, especialmente para aquela tua carta cheia de poema, não vão adiantar. Não adianta evocar os deuses, fazer preces, ajoelhar na calçada. Não adianta decorar gestos, gostos, músicas, manias...Olha, não adianta você nem perguntar o que se quer pro jantar... Arrumar a cama, lavar a louça, limpar o chão, repor a despensa, fazer o café da manhã. Quando uma pessoa não te ama, não adianta você encher a cesta de fruta, comprar iorgutes, morangos... Quando uma pessoa não te ama, não importa se você rezou na noite passada, ou se estar rezando agora. Ela não te nota... (Boteco de Sentimentos)

Amor é Também Arrumar a Cama

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Esses dias fui visitar meu pai; ele estava pela segunda vez, com dengue. Havia marcado outras três vezes antes, antes de finalmente achar um tempo na agenda e poder ir. Havia ignorado também outras três vezes antes, três mensagens cobertas de "se eu dependesse da sua visita, estaria morto!" sendo completa de "faculdade e trabalho não é tudo nessa vida. Você tem família e ela sente sua falta!". Meu pai nunca foi dos caras mais sentimentais, ou talvez ele fosse e eu nunca tive a oportunidade de conhecer, ou talvez fosse só a dengue afetando o seu coração. Eu o encontrei por volta de 23:32h e ele estava na passarela do ponto de ônibus me aguardando. Havia me ligado bem umas 5 vezes antes d'eu finalmente chegar; o que me faz pesar se ele já não estaria lá antes mesmo da hora. Quando cheguei em sua casa o quarto estava todo arrumado. Os lençóis foram trocados, o guarda-roupa estava montado e havia roupas de cama e banho separadas exclusivamente para mim,...
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Dente de Leão

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Ela se esconde no que lê, vê, ouve. Se auto aconselha com o que lê, vê, ouve. Se dar independência pelo que lê vê, ouve. Seus olhos deixam de enxergar quando quer só pelo que leu, viu, ouviu. Ela vai embora quando bem sentir só pelo simples motivo de ler, ver, ouvir. Com dois mundos, tudo que for raso no que ela ler, ver, escutar, a fará voar. Quem tem dois mundos como ela, não precisa do seu! (Boteco de Sentimentos)

Luzes da Cidade

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Luzes da Cidade Coração Solar Beijo de chegada Hora de entrar em cena Eu e a minha pequena Jogo só de dois Fim da tempestade Vila isabel Velha novidade O teu sorriso bossa nova Que esse céu azul se mova Muito devagar Pode ser abençoado o teu amor E tão leal Pode ser De abençoar

Encontro

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Ela enrolava o cabelo e seu pé batucava o chão. Incomodava-se por não me conhecer. -"Letras é só amor. É o curso que sempre quis fazer." - Disse. -"...Na verdade, quero a área de tradução. Odeio letras em si, muito chato." - Ela retrucou. Seus olhos dançavam procurando algum conhecido pátio à fora. Eu, tentando me encaixar, olhava para baixo; Para trás; Frente. Ela disse seu nome, mas não entendi. Deixei estar. -"...Vamos dar uma volta." - Sugeriu. Depois de me arrastar, quebrando o desconforto pelos corredores, quis que o repetisse. Senti gratidão. Afeto. Ofereci meu celular para que ela anotasse seu número. Desde esse dia, metade de mim ficou naquele lugar. (Boteco de Sentimentos)

É preguiça

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O que nos leva a decidir ficar com alguém até hoje eu não descobri, mas temo ter descoberto o que nos leva à partir. Possa ser as músicas que se repetem. Toques que já não são tão mais imprevisíveis e que de tão os mesmos, o outro já antecipa em pensamento. Possa ser as manias que de fascinantes e bonitas, passam a ser corrosivas, estressantes. As mensagens com o mesmo assunto de sempre. As ligações ficam curtas até não existir. A voz do outro não é mais canção. Esse outro é estranho. Digo, outro que passa horas e horas se martirizando por não ter afeto e que; deixa o afeto se transformar nessa coisa horrorosa do adeus. É, meus amigos. Eu não sou o mesmo de ontem. Ele também não é. Você também não. O que nos leva à partir possivelmente seja a preguiça de ver. Ver que as músicas não se repetem. Que os toques não são iguais. Que as manias se renovam. A ânsia da presença aniquilam as mensagens de texto. E que nem todos sabem cantar, Mas amar, ahh amar... Temos tan...

Louco

Ela é doce Frágil como um dente de leão à mercê do vento Com dois mundo dentro de si  e com olhos castanhos que me permitiam ver o universo  Seus beijos me afogavam  Ela é perfeita e eu, errado demais pra ver.
Meu amor é agressivo!
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Sou assim /2

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Guardo coisas que qualquer pessoa normal jogaria fora.  De plásticos de bala até cupom fiscal de cinco anos atrás; do cinema, mercado, farmácia. Me deparei ontem com um comprovante de um café da manhã em que haviam dois pãezinhos de queijo e um copo de café. Se esse cupom não for de horas antes do show do Transmissor, banda excelente de BH, eu não atendo pelo meu nome. Há inúmeros celulares perdidos dentro da gaveta de um criado mudo lá de casa. Um deles foi o primeiro que tive, outro ganhei de presente, fora uma bateria de um outro que não tenho mais, mas que guardo por me lembrar dele. Junto panfleto, cartão de visita, cartão fidelidade, roupas que não me entram pela cabeça, quem dirá pelos braços. Cartas de deputados, carta de amigos, cartões postais, flores que agora só tem o cabo. Cato pedras da rua, enfio-as no bolso e saio andando... Fios coloridos, tampas de garrafa... Imprimo conversas online, revelo fotos e se já não me faz bem olhar, guardo, mas nã...

É um tornado do caramba, pegar as malas e seguir.

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É um tornado do caramba, embalar as roupas, ligar pro frete, juntar os livros, as fotos, os cadernos do colegial... Estragar a coluna, já não muito boa por conta do sedentarismo, ajudando o carinha pôr a cama no caminhão. Engraçado como a gente passa tanto tempo numa casa, para no final só levar a cama. Ahh, tem aqueles trocados que juntamos para ir ao show da banda preferida, que sabe-se lá quando vai voltar ao país para uma nova turnê e que não vai dar pra ir, já que o frete é tão caro e o aluguel do novo lar, também. Faz parte sucumbir nossos sonhos para sobreviver. Às vezes eu me esqueço que meu primeiro sonho foi ser adulta, o de ver minha banda preferida foi o penúltimo. É um alvoroço, não nego. Mas quando a gente se recupera, dá vontade de chorar de orgulho do cheiro, daquele tapete novo, do jogo de panelas... Nem o quarto de antes, tem tanto você quanto o seu próprio lugar de agora. Não é mais a lei de ir e vir quando bem quiser, comer o que quiser, d...
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Ana, sei que ando mais pra lá do que pra perto de ti. Que ao invés de te abraçar, tenho te empurrado pra longe de mim.  Sei que grito contigo, mais do que canto. Que quando vens me ver, e por praga do destino, tenho ficado em silêncio e me estressado quando me pedes para abaixar o som, ou quando, insatisfeita com a música, me pedes para trocar por outra. O trânsito nunca me deixa feliz.  Não tenho te trago mais rosas, ou chocolates. A floricultura sempre está fechada na hora de ir para casa, os chocolates não são os mesmo sem as flores. Às vezes me falta memória.  Os cinemas não estão dando mais certo. Os horários nunca são seguros.  Não tenho mais te escrito poemas... Cartas... A verdade é que eu ando sem tempo para te mostrar o quanto és importante para mim.  O quanto eu me apaixono por ti à cada minuto, mesmo quando estamos no trabalho e não podemos conversar, ou quando você me troca pelas suas séries. Mesmo quando diz que a minha cama é du...

Eu devia dobrar os cigarros.

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Minha vida deu um rebuliço. Aliás, é só o que ela anda fazendo.  Ela não sabe sentar, descansar... Ela fica constantemente em guarda para me ferrar. Quando penso que ir na padaria é um descanso do resto, eu sou assaltada no caminho.  É uma peça atrás da outra. Tô começando a desgostar de teatro. Hoje, em troca de vender metade das mercadorias da loja de onde trabalho, sou despejada de onde moro. E ainda sou obrigada a ser gentil com o meu vizinho que ao invés de falar que tive um gato durante esse tempo, falou que eu tava criando um galinheiro.  Quem precisa desse povo? A gente fuma um cigarro dentro de casa e a já acham que somos donos de boca de fumo . Eu devia era dobrar os cigarros pra matar essa gente infeliz na unha.  Tô começando a achar que plantei durante todo esse tempo, punhos fechados... Só isso pra justificar tanta porrada.  Juro que eu só queria tomar meu açaí, assistir minhas séries com a luz apagada. Hibernar... Mas agora t...

Sou assim.

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Certa vez, eu estava de ida à Governador Valadares. Como de mania mesmo da minha parte, deixei meu caderninho de registros comigo na poltrona, o resto, no bagageiro... Ter um caderno de registros para uma viagem de 19 horas a fio, é mais do que necessário para passar o tempo ocioso. Até porque não teria nada de divertido, além de ver as arvores voando pela janela do ônibus. Outra mania, viajar de ônibus. Particularmente, voar não é comigo. Nada contra o céu, tudo contra as coisas que viram formigas lá de cima. Numa dessas manias de redigir tudo que avistava pela frente, inesperadamente, minha caneta estourou. Como? Não me pergunte como. Minha blusa, minha calça, tudo se transformou num daqueles borrões do Wilson Braga. A moça ao meu lado, me ofereceu incontáveis guardanapos para limpar aquela meleca toda. -Me dê a caneta para jogar fora. A lixeira é bem ali. Eu não conseguia largar a caneta, embora ela já não pudesse mais me servir para nada, além de me proporcionar uma pequ...

Para ela

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Eu decorei suas fraquezas, acalmei seus pesadelos. Conheço histórias de sua infância, dores e repulsas. Sou sua caixa-preta, sua cópia de segurança, seu diário, seu esconderijo na parede. Poderia imitar sua caligrafia, poderia escrever sua biografia, listar o material escolar da 5ª série, recordá-la da capa de bichinhos coloridos da cartilha Alegria de Saber. Você não escondeu nenhuma resposta de minhas perguntas. Nenhuma gaveta para a minha curiosidade. Nunca se revelou tanto para outra pessoa. Expôs quem odiava no Ensino Médio, quem amava, quais as gafes e as covardias que experimentou na escola. Confidenciou aquilo que seu pai gritou e que magoou fundo, aquilo que sua mãe omitiu e feriu fundo. Não tem anticorpos contra mim. Baixou as armas, depôs a mínima resistência. Se você me escolheu para confiar, devo ter o dobro de tato para falar contigo, o triplo de responsabilidade. Qualquer um conta com o direito de falhar, qualquer um desfruta da po...